sábado, 20 de junho de 2009






Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do Sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou: - Que provas podes dar da tua força para pretenderes a mão da moça mais formosa da tribo? - As provas do meu amor! - respondeu o jovem. O velho gostou da resposta, mas achou o jovem muito atrevido. Então disse: - O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia. - Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei. Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova. Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram, dia e noite, vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo, para ser o seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai: - Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer. O velho respondeu: - Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece. E esperou até a última hora do novo dia. Então ordenou: - Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé. Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seus olhos brilhavam e seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados, ainda, quando o jovem, ao ver a sua amada, se pôs a cantar, como um pássaro, enquanto o seu corpo, aos poucos, ia se transformando em um corpo de pássaro! E exatamente naquele momento os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em pássaro. Então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta, onde desapareceu para sempre. Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro João-de-barro. A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem a sua casa e protegem os seus filhotes. E os homens amam o João-de-barro, porque lembram da força de Jaebé; uma força que vinha do amor e foi maior que a morte! (Fonte: Ayala, Walmir. Moça Lua e outras lendas. Ediouro Publicações S.A.). O João-de-barro é um passarinho de nada. Como deve ser brabo, para ele, o esforço de levar no bico, por dias a fio, pedacinhos de barro e pedacinhos de capim. Mas não afrouxa o tutano, ajeita daqui, ajeita dali, voa para cá, voa para lá, traz, põe terra, não cansa, voa de novo, empurra com o biquinho os grãozinhos de terra, bate as asinhas doloridas de cansaço, se agiganta, vem a chuva ameaçando por tudo abaixo, ele remenda o que a chuva estragou, recomeça, vem o gavião voando para acabar com a vidade dele, ele foge, quando gavião vai embora ele volta, segue em frente, traz mais barro, chega ao topo, dá os remates finais... E olha lá, num amanhecer de primavera, o rancho todo construído e ele piando de felicidade ao lado da companheira. E agora podem vir chuvas, que isto não tem mais importância. E pode vir o gavião de novo, que os filhos estão dormindo com toda a segurança numa caminha de penas. Que lindeza! Se o joão-de-barro, que é um passarinho flaquito, pode fazer tudo isso com seu biquinho de nada, por que não poderá um homem construir sua felicidade? Basta querer! (Fonte: Lessa, Barbosa. Os Guaxos). Na tradição dos nossos campeiros, diz-se que o joão-de-barro, ou joão-barreiro, ou forneiro, não trabalha aos domingos e dias santos, a não ser quando, tendo chovido muito na véspera, aproveita a oportunidade para recolher o barro formado pelo aguaceiro. Em casa ou rancho com ninho de joão-de-barro não cai o raio; destruir o ninho atrai o raio e provoca a dispersão dos membros da família. Geralmente é respeitado até pelos guris, quando vão ninhar; e o campeiro o considera um símbolo da felicidade doméstica.


O joão-de-barro é pássaro tão integrado na paisagem crioula quanto o quero-quero.


(Fonte: MEYER, Augusto. Guia do Folclore Gaúcho. Editora Tecnoprint S.A.: Rio de Janeiro, p. 64)
Fonte: Site Bombacha larga

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